Somos de uma unidade escolar no município de Santo André, a E.E. Profa. Inah de Mello.
A princípio, uma escola comum. Mas temos um diferencial em nossa rotina que a torna muito querida e envolvida na construção de um cidadão mais capaz de incluir e atuar na perspectiva de enxergar o outro nas suas diferenças.
Na Diretoria de Ensino da Região de Santo André, há mais de quatro décadas, a nossa escola é pólo em atendimento a deficientes visuais. O atendimento e inclusão deste público nas salas de aula são realizados em uma Sala de Recursos em Deficiência Visual (S.R.D.V.), atualmente também conhecida como sala de APE (Apoio Pedagógico Especializado), e conta com atuação de duas especialistas, a Carmem Medina e a Shirley Monteiro, duas pessoas que são, além de peritas em técnicas pedagógicas sobre deficiência visual, pessoas que primam pelo trabalho humanizado.
O nosso trabalho não é melhor do que o de outras instituições que se prestam a este tipo de atendimento. Mas gostamos de enfatizar que o carinho e a naturalidade como a integração entre o público-alvo da Educação Especial (PAEE) e os demais alunos acontecem é um diferencial em tempos de tanta contradição e falta de respeito em relação ao próximo.
Na rotina escolar, os alunos cegos ou de baixa-visão se integram nas diferentes atividades propostas: projetos, teatro, seminários, apresentações, trabalhos em grupo, esportes, interagem nos intervalos, namoram, discutem, se envolvem em intrigas, se assumem com suas dificuldades como qualquer adolescente da mesma faixa etária. Dizemos que são bem resolvidos com suas condições. Os que ainda estão se apropriando de sua nova condição, perdendo a visão ou já desprovidos dela, passam por um processo de acolhida dos professores, amigos de sala, profissionais envolvidos e família que, em pouco tempo já têm esta questão acomodada e a enfrentam buscando as melhores formas de lidar com suas limitações.
Para que tenham um exemplo desta prática, e que ela pode dar certo, realizamos, há três anos, uma feira de troca de livros como estímulo à leitura e o contato com uma variedade de livros de todos os gêneros. E o que é mais importante, sem que alunos ou escola gaste um tostão, atrelando a esta ideia também a preocupação com as questões de sustentabilidade.
Um grande apoio para estas atividades de incentivo à leitura também é realizada pela Sala de Leitura da escola, com a professora Solange Barbosa que trabalha de forma conjunta com os professores, dentro e fora da sala de aula. O acervo da escola de livros adaptados fica integrado ao acervo dos demais livros.
E uma preocupação que surgiu em relação à feira foi quanto ao público de deficientes visuais. Não existe a prática de levarem títulos em Braille ou material ampliado para casa, por conta do volume excessivo. E para uma feira de troca, os alunos deficientes visuais não tinham o que trocar. Para atendê-los, realizamos, então, o contato com instituições, bibliotecas e escolas com acervo adaptado e levantamos a possibilidade de doações, para que os deficientes visuais pudessem também levar livros para casa e ter a oportunidade de trocar por outros títulos no dia do evento. As doações foram tantas que o acervo aumentou ainda mais.
Tem sido um sucesso. E a cada ano, criamos atividades diferenciadas. Além das bancas de Poesia, Contos, Clássicos, Literatura Infantil, Gibis e Revistas, são oferecidas oficina temática de produção textual, contação de histórias, conversa com autores, e outras atrações culturais. Nestas bancas, distribuímos também as obras adaptadas em Braille e ampliadas para a escolha dos alunos deficientes visuais junto aos demais alunos.
Criar o hábito da leitura é uma prática que iniciamos com os exemplos. E por que não começar o contato com os livros de uma maneira descontraída e divertida? E com os amigos na escola?
É o que pretendemos!
Érika David Suzuki Bueno
Professora-Coordenadora
E.E. Profa. Inah de Mello
Santo André-SP