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O que sabemos sobre a leitura da pessoa com deficiência visual?

Fundação Dorina realiza uma pesquisa nacional para entender o cenário da leitura inclusiva

Em seus quase 70 anos de atuação a Fundação Dorina caminhou na produção manual de livros acessíveis para a maior gráfica de livro braille da América Latina, além da produção de livros falados, fonte ampliada, tinta-braille ilustrado e Digital Acessível DAISY, com uma média de 200 mil  exemplares distribuídos anualmente para todo o Brasil.

No entanto ainda assim ficava uma sensação de que faltava algo, pairando a seguinte questão: será que fornecer os livros acessíveis para as bibliotecas, escolas e outras organizações garante a formação de leitores com deficiência visual?

A partir desta inquietação a Fundação Dorina, realizou em 2012 a Pesquisa Nacional dos Hábitos de Leitura da Pessoa com Deficiência Visual, por meio da Ipsos Public Affairs.

Foram entrevistadas mais de mil pessoas entre leitores com deficiência visual e profissionais de organizações intermediárias (biblioteca, escolas, salas de leitura, etc), a fim de entender também como se dá o processo da leitura inclusiva no Brasil. Com isso compreendemos o impacto dos livros acessíveis nas organizações intermediárias bem como os desafios e barreiras para a utilização destes, além de identificarmos como se dá a relação entre o profissional intermediador, o livro acessível e o usuário final.

Compartilharemos a seguir os principais resultados.Perfil Atendentes das organizações intemediárias da leitura

Sobre as organizações intermediárias, percebemos que o profissional que trabalha no atendimento à pessoa com deficiência visual atua há pelo menos 3 anos na função, ou seja, possui convivência e experiência com este público.  A pesquisa mostra ainda a qualificação deste profissional, tendo a grande maioria formação superior.

No entanto esses profissionais sinalizaram que embora tenham experiência na função e possuam formação superior, sentem a necessidade de informações e capacitações para realizarem   seu trabalho às pessoas com deficiência visual.

 Essa dificuldade se revela em um  outro dado da pesquisa no que diz respeito a promoção de  atividades de incentivo à leitura praticadas pelas instituições, onde quase 80% informa realiza-las, e destas somente 39% promove atividades para pessoas com deficiência visual.

grafico eventos de incentivo a leituragrafico eventos de incentivo a leitura 2

Isso nos mostra que a acessibilidade atitudinal não ocorre e é a grande estratégia para mudar esse quadro. Ao  se pensar  em atividades que atendam as diversidades não mais será necessário fazer essa divisão de públicos e ações.

grafico uso dos livrosAgora falando do público com deficiência visual constatamos no perfil deste leitor que existe forte interesse pelo livro e leitura, entre os leitores do formato braille, por exemplo, mais de 70% respondeu ler no mínimo uma vez por semana.O leitor com deficiência visual aponta ainda a importância das organizações locais na intermediação entre os livros acessíveis e a Fundação Dorina.

Constatamos também que 86% dos livros acessíveis disponibilizados pelas organizações pesquisadas são fornecidos pela Fundação Dorina, o que confirma a importância na continuidade da produção e distribuição de livros acessíveis e que outras fontes são pouco exploradas.

grafico intermediaçãoGrafico fornecedor livros acessiveis

 Com essa pesquisa foi possível concluir que se fazem necessárias, tanto para a organização intermediária quanto para o leitor com deficiência visual, ações mais próximas, com diálogo e troca de oportunidades inclusivas e neste sentido mais uma vez constatamos que ações da Rede de Leitura Inclusiva convergem com as necessidades de todos os atores envolvidos.

Cabe a nós, organizações intermediárias, conhecer, buscar e ofertar recursos acessíveis ao leitor com deficiência visual demandar e reconhecer suas oportunidades e direitos de acesso à leitura e à informação.